Na década de 30 do século passado a Rússia Comunista de Stalin destruiu toda uma cadeia produtiva na Ucrânia com a coletivização forçada das terras dos Kulaks “pelo bem comum”. O resultado foi a morte de 7 milhões de pessoas em menos de 3 anos, no evento conhecido como Holodomor, o Holocausto Ucraniano. Além da morte por extermínio, foi a fome a maior causa do genocídio dos Kulaks. O canibalismo se tornou uma opção para os famintos. A situação chegou a tal ponto que a Rússia precisou emitir panfletos alertando a população: “Não é saudável comer suas crianças e seus idosos”.[1]
Economia não é bolsa de valores, shares e criptocoins. Economia é pão, é arroz, carne e batata. Tudo isso requer para a sua produção, pessoas, seres humanos ativos — preferencialmente saudáveis. Quando se elimina toda uma cadeia de produção, não interessa o motivo, a consequência lógica é a queda ou até mesmo o achatamento do abastecimento na parte final da rede de distribuição: a mesa do trabalhador. Não há governo e nem Estado que posso prover quando não existe produtividade, arrecadação de impostos e logo, o que prover. O máximo que o Estado poderá te oferecer quando a produção acaba é uma vala rasa.
Os efeitos políticos, sociais e econômicos do Coronavírus Chinês são infinitamente maiores do que os efeitos na saúde, propriamente ditos. Pessoas em pânico — muitas histericamente estocando produtos de consumo e prejudicando toda uma cadeia de produção —, abdicando voluntariamente de suas liberdades individuais e entregando ainda mais poderes ao Estado, delegando ainda mais iniciativas a políticos semianalfabetos com lascívia por poder.
Autoritarismos e tiranias emergem quando os seres humanos abdicam da razão e do bom uso de suas faculdades mentais, cedendo liberdade em nome da “segurança”, segurança que só pode existir justamente quando os próprios seres humanos se conscientizam de seu papel enquanto partes de uma sociedade, agindo responsavelmente e individualmente pelo bem comum.
Embora até o presente momento não se saiba de algum animal que tenha morrido como consequência do Vírus Chinês, se tornaram cotidianas as notícias de que carnes já começam a acabar nos supermercados e nos açougues. O que houve? Os frigoríficos deixaram de distribuir? Será que as pessoas passaram a comer mais carne? Não. O que mudou foi o comportamento das pessoas. Os seres humanos não são como peças de xadrez, que podem ser manuseadas, neste caso por burocratas, forçados a agir como objetos.
Quando postos diante de medos e inseguranças, os seres humanos tendem a agir em interesse próprio, aquém das consequências alheias (Game Theory, 11 prêmios Nobel por sua relevância científica em diferentes áreas). Ao abdicarem de suas liberdades individuais, delegando toda a organização social ao Estado em nome de uma suposta segurança, os seres humanos contribuem naturalmente para manterem-se a si mesmos escravos mentais submissos ao Estado e à outros homens.
Mais poderes ao Estado, mais intervenções dos governos na economia, maiores restrições de liberdades e direitos, controle das nossas ações, manipulação da realidade e esfacelamento do tecido social: A quem servem todas essas características consequentes do Vírus Chinês — cujos riscos biológicos não questiono? Servem justamente àqueles que pedem mais Estado e menos liberdade — o que talvez explique o fato de a origem da pandemia ser justamente as ações inconsequentes do Partido Comunista Chinês, que chefia a ditadura preferida dos endeusadores do Estado.
No fim das contas as pessoas saudáveis e fora dos grupos vulneráveis precisarão escolher entre os riscos mínimos — com as devidas precauções — provenientes da exposição ao mundo externo, como sempre fora o caso em toda a história da humanidade, e a inevitável escassez de produtos básicos de consumo e o início da empreitada do “cavucar” da nossa própria cova. Entre o primeiro e o último, continuo acordando todos os dias no mesmo horário e pegando meu trem vazio para colocar na minha mesa e na sua o pão de cada dia, ao invés de mordaças, uma pá e um saco de cal.
O ceticismo e o bom senso existem para distinguirmos, entre outras coisas, em até que ponto o remédio não é pior do que a própria doença.
Referências
[1] Várdy, Steven Béla; Várdy, Agnes Huszár (2007). “Cannibalism in Stalin’s Russia and Mao’s China”. East European Quarterly. 41 (2): 223–238.