O que é ideologia?

Primeiro de uma série de artigos sobre ideologias.

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A resposta direta e correta à pergunta do título seria “bosta”, entretanto como esta é uma coluna de respeito, pretendo desenvolver nesse trabalho o que é ideologia. Após este, nas semanas seguintes, trarei um esboço sobre as principais ideologias, para que saibamos o que estamos enfrentando e de que estão nos rotulando.

O termo ideologia surge no fim do século XVIII pelos escritores franceses e ganhou força após a revolução de 1789, desde então este termo se espalhou pelo mundo inteiro. A primeira ideologia que foi defendida na época foi o liberalismo.

As ideologias surgem para destruir a consciência de que existe uma verdade primeira. Rosmini escreveu que a partir das ideologias há no homem “uma ideia primeira, anterior a todas as outras, com a qual, como regra suprema, todas se formam. Admitindo isto, cumpre dizer que aquela primeira ideia, princípio e fonte de todos os juízos, é também o princípio e a fonte dos juízos morais, e por isso a primeira lei moral”. (Principii della scienza morale, cap. 1). Assim compreendemos que o autor partia de uma analise gnoseológica.

Não podemos fazer confusão entre ideologia e doutrina. São duas coisas diferentes, assim como ideologia também não é uma maneira de governo. Antes, as ideologias inspiram os regimes, mas não são o regime em essência. Como inspiradora a ideologia também não faz papel de teoria do estado, ou de filosofia social.

As ideologias são um conjunto de normas para a organização da sociedade, que não foram testadas na história e que existem no pensamento de seus idealizadores. Existem como um dogma, seu pensador a expõe e seus seguidores a tem como regra de ouro pela qual, se for preciso, darão a vida.

É comum, e acertada, a comparação de ideologia a uma utopia, algo que visa construir o paraíso na terra. Desta forma, não se pode refutar uma ideologia com argumentos filosóficos ou com a demonstração de fatos, pois o ideólogo não se importa com a filosofia ou com a história, se importa antes com a beleza de sua argumentação e com a concretização de seu sonho.

Marx, sem dúvida o ideólogo mais famoso, entendia a ideologia como instrumento de dominação de uma classe sobre a outra, de maneira que o marxismo é a ideologia que tenta acabar com a dominação burguesa – nesta visão, ideologia da burguesia – e fazer com que o proletariado – oprimido e sem direitos – dominasse todas as classes. Assim entendemos que ideologias não resolvem os problemas, antes elas procuram inverter os prejudicados.

Atualmente, como base das ideologias, temos o pragmatismo e a abstração, indivíduos sonhadores, que conhecem apenas as ideias e não as coisas como são. Neste curso caímos no idealismo, e percebemos nos indivíduos um movimento de conhecimento inverso e dispendioso. Os denominados “pensadores” sondam o conhecido pelo desconhecido, como bem descreve Olavo de Carvalho. Ou seja, buscam respostas para as situações enigmáticas conhecidas por ideias, possibilidades que podem dar certo.

“A invasão das ideias sucedeu à invasão dos bárbaros; a civilização atual descomposta perde-se em si mesma; o vaso que a contém não derramou o licor num outro vaso; foi o vaso que se quebrou!” ( Mes memoires, Editions Générales, Genève, 1960)

Como expressamos acima, os filósofos franceses e os demais autores foram responsáveis pela continuação das ideologias no pós Revolução Francesa, desta maneira estes mestres ensinam os seus discípulos não mais a conhecer o mundo, mas a transformá-lo a partir de suas ideias e de sua técnica.

Assim divide-se ainda mais o poder, sobretudo após a tripartição do poder, surgem agora os governos tecnocráticos. Delega-se o poder dos governantes, constituídos legitimamente, aos técnicos. Parece algo razoável, todavia o técnico não conhece de administração pública, não tem domínio do todo, não sabe os efeitos que sua decisão terá sobre as outras dimensões da sociedade.

“Psicologicamente, o ideólogo é um possesso: suas reações, suas respostas, sua conduta não são as suas, as de uma pessoa cuja razão atue com discernimento para determinar a vontade na consecução do bem, mas as do iniciado que já passou pelas provas condicionantes do acesso à gnose salvadora!” (El hombre, animal político, Academia Superior de Ciencias Pedagógicas de Santiago, Chile, 1984, 4ª parte, cap. I)

O proselitismo dos ideólogos é característico desde o século XVIII, nas “sociedades de pensamentos” ainda hoje verificamos esse trabalho baixo e sofista, assim as ideologias dominam todos os meios de propaganda formam a opinião comum, sem chance de um segundo pensamento ou, menos ainda, de uma ideia antagônica.

“A crença na perfectibilidade humana e no progresso indefinido substituiu a fé em Deus e a esperança da vida eterna.” (José Pedro Galvão de Souza, Dicionário de Política)

André Malraux anota que a “casa da cultura veio substituir a Catedral”. Para a ideologia não era preciso apenas tirar a ideia de Deus, mas era necessário negar a existência do mesmo, assim com uma negação abre espaço para uma afirmação, neste caso, precisamente, a do progresso e do paraíso na Terra. Se temos o paraíso aqui por que precisamos de céu então?

Muitos acreditavam que após a Segunda Guerra Mundial as ideologias iriam desaparecer, Mao Tsé-tung faleceu, a União Soviética estava sendo desfeita, tudo levava a crer, contudo aponta Gonzalo Fernándes, que este era apenas o crepúsculo das ideologias e não sua morte como defendia Daniel Bell. Mas podemos dar destaque a fala de Ignacio Massini que anunciou o renascimento das ideologias.

Hoje vemos por toda parte a contaminação da sociedade pelas ideologias, sobretudo na ditadura do politicamente correto, assim podemos ter certeza que nunca antes estas tiveram tanto poder e influenciaram tantas pessoas. Isto se dá pela falta de instrução e interesse dos indivíduos, que foi implantado justamente para que ninguém se desse conta de que estava sendo dominado. Um domínio silencioso e eficiente que pode nos custar a perda da civilização.

Encerro esse, e reafirmo a vontade de nas próximas colunas definir algumas ideologias, para que se aproximando as eleições possamos olhar claramente os candidatos, com a lente da verdade e não das ideologias.

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