Democracia em Vertigem: O “Triunfo” dos Demagogos

Para os ideologicamente possuídos, o que importa não são os fatos mas sim a narrativa.

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Devem ser todos eles [os Kulaks] e suas famílias fisicamente abolidos? Claro que não – eles devem ser ‘liquidados’ ou derretidos no fogo quente do exílio e do trabalho das massas proletárias.” Walter Duranty, New York Times, 1931, sobre o plano dos Comunistas de liquidar milhões de povos camponeses Kulaks na Rússia de Joseph Stalin.[1]

Por seus escritos produzidos sobre a União Soviética na década de 30 do século passado, Walter Duranty, jornalista angloamericano a serviço do New York Times, foi premiado em 1932 com o Prêmio Pulitzer, considerado o “Oscar do Jornalismo”.

Mesmo com acesso ao regime comunista concedido pelo governo russo, Duranty optou por omitir a existência de fome generalizada, atacando os rumores que começavam a chegar ao ocidente. Duranty defendeu ainda, entre outras barbaridades, as políticas soviéticas de coletivização das propriedades rurais dos Kulaks — camponeses que mal haviam saído da pobreza abjeta e começavam a se modernizar.

Foram essas políticas soviéticas contra os Kulaks que acabariam por matar somente na Ucrânia entre os anos 1932 e 1933, um número estimado entre 7 e 10 milhões de pessoas no chamado Holodomor, o Holocausto Ucraniano. Para efeitos de comparação, é como se toda a população de Portugal, sem distinção, fosse dizimada e erradicada do planeta em um espaço de 2-3 anos.

Foi o Cardeal de Viena, Theodor Innitzer, que em 1933 trouxe para o ocidente as revelações chocantes oriundas da União Soviética. Segundo Innitzer, a situação se tornara de tal maneira desumana que o infanticídio e o canibalismo se tornaram parte da realidade cotidiana na Ucrânia.

Entretanto, Duranty escreveria nos anos seguintes sobre os eventos de 1932-33: “As condições estão ruins, mas não há fome. (…) Não se pode fazer um omelete sem quebrar ovos.” Para o jornalista as acusações do ocidente eram “exageradas”, não mais que “propagandas malignas”. [2]

Nas décadas seguintes, inúmeros pedidos surgiriam no ocidente clamando pelo cancelamento do Prêmio Pulitzer dado a Duranty. Nos anos 90 – após décadas de omissão sobre o assunto – o próprio New York Times admitiu que os artigos de Duranty escritos na década de 30, constituíam “alguns dos piores artigos já publicados no periódico”. [3]

Uma campanha internacional foi lançada em 2003 pela Associação de Liberdades Civis da Ucrânia e do Canadá, exigindo revogação do prêmio de 1932. Embora a Organização das Nações Unidas tenham oficialmente reconhecido o Holodomor, as organizações Pulitzer se negaram a atender o pedido de anulação da honraria.

Walter Duranty, o jornalista que negou a existência de 10 milhões de cadáveres em valas rasas na União Soviética e defendeu abertamente as políticas que causaram o Holocausto Ucraniano, continua sendo um “reconhecido vencedor do Oscar de Jornalismo”.

O fato de “Democracia em Vertigem” – narrativa política de esquerda sobre o impeachment da ex-presidente do Brasil Dilma Rouseff classificada como “documentário” – ter sido indicado ao “Oscar” diz muito mais sobre o estado das organizações de representação de arte, cinema, jornalismo e cultura, do que diz sobre o “documentário” em si.

A obra produzida pela herdeira da Andrade Gutierrez – a mesma Andrade Gutierrez que terá de pagar 1,49 bilhões de reais ao Brasil por seu envolvimento do esquema de corrupção durante os governos Lula e Dilma – Petra Costa, consegue a façanha de omitir sobre as eleições de 2018 o atentado contra Jair Bolsonaro, então líder das pesquisas, atingido por uma facada pelo simpatizante da causa comunista Adélio Bispo.

Para criar a sua narrativa, a diretora não mediu esforços, seja por meio da distorção, da omissão ou completa corrupção dos fatos. Em uma das cenas do filme, Petra adulterou digitalmente uma fotografia de dois militantes do PCdoB mortos durante o Regime Militar, removendo da imagem uma carabina Winchester e um revólver Taurus. O periódico Gazeta do Povo compilou uma seleção de 45 fraudes facilmente identificáveis na narrativa.

A mentira e corrupção dos fatos, entretanto, não deve ser barreira para o filme de Petra Costa. Para sociopatas ideologicamente possuídos, o que importa não são os fatos mas sim a narrativa. Outrossim, a ficção esquerdista possui grandes chances de se sagrar vitoriosa na premiação do Oscar dos Demagogos, dando a Petra Costa o distinto posto de “Walter Duranty” do cinema brasileiro.


[1] KAISER, Darrel Phillip. Moscow’s Final Solution: The Genocide of the German-Russians Volga Colonies. 2007, p. 79.
[2] Ibid., p. 80.
[3] “The Editorial Notebook; Trenchcoats, Then and Now”. The New York Times, 24 de Junho de 1990. Disponível em https://www.nytimes.com/1990/06/24/opinion/the-editorial-notebook-trenchcoats-then-and-now.html. Acesso em 14 de janeiro de 2020.

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